A consultora Fitch Solutions considerou, nesta quinta-feira, que a insegurança no norte de Moçambique vai levar a petrolífera norte-americana ExxonMobil a adiar a Decisão Final de Investimento (DFI) para 2023, dificultando o crescimento económico do país.
"Devido à atividade militante persistente e à incerteza relativamente ao financiamento do projeto, estamos cépticos sobre o projeto Rovuma LNG, da ExxonMobil, começar a dar frutos a curto prazo, e consequentemente não antevemos uma DFI até 2023, com os riscos a tenderem para o lado negativo", dizem os analistas.
Num comentário à situação de insegurança vivida na província de Cabo Delgado, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings salientam que, "apesar de a insurgência no país continuar a ameaçar o desenvolvimento do setor de gás natural liquefeito, os três projetos planeados para o país deverão entrar em funcionamento, apesar dos riscos".
Sobre o projeto da Total, um investimento de 20 mil milhões de euros perto de Palma, a cidade atacada em 24 de março, a Fitch Solutions espera que a petrolífera francesa retome as obras tão cedo quanto possível, mas alerta que este projeto da Área 1 "sofre de riscos cada vez maiores face aos prazos iniciais se a desmobilização for prolongada".
Ainda assim, os consultores consideram que os projetos vão concretizar-se, antecipando uma aceleração do crescimento económico a partir do próximo ano, ligado ao funcionamento da estrutura ao largo da costa, operada pela Eni, que fará as exportações de gás subirem para 1,3 mil milhões de metros cúbicos em 2022 e 4,6 mil milhões de metros cúbicos no ano seguinte.
"Consequentemente, Moçambique deverá ter das maiores taxas de crescimento da África subsaariana, com expansões de 5,2% e 7,7% em 2022 e 2023", apontam os analistas.
No comentário aos últimos desenvolvimentos na província de Cabo Delgado, a Fitch Solutions escreve ainda que a perspetiva de segurança a longo prazo depende da resposta do Governo.
"O alargamento e a frequência dos ataques sugere que o conflito está a tornar-se cada vez mais sofisticado e afasta-se daquilo que Moçambique é capaz de resolver sozinho", apontam, salientando que "sem uma ajuda de segurança regional e externa, juntamente com esforços a longo prazo para aumentar o desenvolvimento inclusivo e apoio às comunidades afetadas, parando a radicalização, é improvável que as ameaças terroristas se desvaneçam a curto prazo".
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500, mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Fonte: Lusa