Moçambique tem de encontrar um milhão de pessoas com HIV que estão fora do tratamento antirretroviral no país, levá-las a entrar na terapia e a permanecer nela, disse nesta quarta-feira, 21, a sub-secretária Geral das Nações Unidas, Winnie Byanyima.
"Hoje há 2,2 milhões de pessoas que são positivas para o HIV [em Moçambique] e desses, só 1,2 milhões estão em tratamento", ou seja: "Há um milhão que está fora, que temos de encontrar para colocar em tratamento e garantir que ficam", referiu.
"Há um desafio e temos de ajudar Moçambique a levar estes serviços" de diagnóstico e tratamento do HIV/sida ao encontro da população, além de, ao mesmo tempo, "acabar com os estigmas".
Winnie Byanyima, que é também directora executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA (Onusida), falava numa conferência de imprensa via Internet no final de uma visita de quatro dias a Moçambique.
Durante a deslocação, aquela responsável encontrou-se com várias entidades e figuras públicas, entre as quais o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ao qual reiterou o apoio do programa ao país.
Moçambique não atingiu a meta 90-90-90 prevista para 2020 - 90% da população diagnosticada, 90% dos casos de HIV/sida em tratamento e 90% dos tratados em supressão viral -, mas outros países também não alcançaram esse objetivo, apontou Byanyima.
Essuatíni e Namíbia foram exceções referidas por aquela responsável, como países que conquistaram o feito.
"Moçambique não atingiu" a meta, "mas fez progressos", realçou.
Só que "os dados de Moçambique sugerem que há muito trabalho para fazer para suportar testes e ainda mais para que quem esteja positivo vá para tratamento", referiu a responsável.
Segundo um relatório do Ministério da Saúde (Misau) moçambicano relativo a 2019, 73% das pessoas com HIV tinham sido diagnosticadas, 59% destas estavam em tratamento, mas só 32% atingiram a supressão viral.
Segundo Winnie Byanyima, a sua deslocação a Moçambique esteve também relacionada com o levantamento de necessidades relativa aos ataques armados em Cabo Delgado.
"Quando as pessoas estão deslocadas, perdem acesso a serviços e os riscos aumentam", como o de serem quebradas as rotinas de tratamento, destacou, apelando à máxima atenção para o que se passa no norte de Moçambique.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Fonte: Lusa