O representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique disse esta sexta-feira, 14, que a redução da previsão de crescimento para 1,6% este ano não leva em conta os efeitos dos ataques no norte do país.
"O resultado em 2020 foi um pouco pior do que o projectado por nós, antevíamos uma contracção de 0,5%, mas acabou por ser de 1,3% devido às exportações de carvão e alumínio mais baixas, devido às reformas temporárias na mina de Moatize, e à procura global arrefecida, que foi um reflexo da pandemia", disse Alexis Meyer-Cirkel.
Durante uma apresentação sobre o último relatório do Fundo para a África subsaariana e com incidência em Moçambique, o líder do FMI no país disse que "a previsão de crescimento do PIB em 2021 passou de 2,1% para 1,6%, no entanto essa previsão não incorpora ainda os efeitos dos ataques de Março em Palma", o que significa que poderá ser revista em baixa decorrente da evolução da situação, que agravou os riscos.
"Apesar das incertezas terem aumentado devido à insurgência no norte, também há riscos positivos, como a recuperação acentuada de países grandes, como os Estados Unidos, e o aumento da capacidade de produção de carvão pela Vale", acrescentou Alexis Meyer-Cirkel.
Na intervenção, o representante residente do FMI em Moçambique desde o final do ano passado vincou que "Moçambique dominou a segunda vaga" da pandemia, mas alertou que "a trajectória é incerta e parece claro que a região não está fora de perigo".
A incerteza sobre a evolução da pandemia, de resto, levou o FMI a prever que o PIB per capita só regressará aos níveis anteriores à pandemia no final de 2023, "mas o cenário negativo, que incorpora atrasos na distribuição de vacinas na região da África subsaariana, adiaria o regresso aos níveis pré-pandémicos para o final de 2024".
No caso de Moçambique, vincou, "a trajectória é mais benéfica, mas não incorpora ainda os efeitos da insurgência" no norte do país.
Passando em revista os principais indicadores do país, o representante do FMI em Moçambique salientou que enquanto na África subsaariana o número médio de dias que as crianças ficaram sem ir à escola devido à pandemia foi de 67, em Moçambique foi perto de 100, e considerou que as aulas aos fins de semana e com recurso às tecnologias não compensam a falta de aulas presenciais.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projecto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
Um ataque a Palma, junto ao projecto de gás em construção, em 24 de Março provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.
As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
África registou mais 301 mortos associados à covid-19 entre quarta e quinta-feira, para um total de 125.404 óbitos desde o início da pandemia, e 8.746 novos casos, segundo os últimos dados oficiais.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número total de casos é de 4.660.301 e o de recuperados nas últimas 24 horas foi de 8.785, totalizando 4.219.117 desde o início da pandemia.
Moçambique regista 826 mortes e 70.287 casos de infecção.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Fonte: Lusa