O antigo primeiro-ministro Marcolino Moco, interpreta como retaliação o afastamento dele como administrador não executivo da petrolífera Sonangol.
Marcolino Moco que também desempenhou as funções de secretário-geral do MPLA (partido do poder) diz que soube da exoneração através da televisão pública.
Na quinta-feira, 18 de Fevereiro, era anunciado que o Presidente João Lourenço, entre outras alterações na gestão da petrolífera nacional, nomeava Bernarda Gonçalves Martins como administradora não executiva da Sonangol, para suceder a Marcolino José Carlos Moco, também exonerado nessa data.
Reagindo numa das suas redes sociais, Marcolino Moco disse que a sua exoneração, por "coincidência ou não", acontece depois de ter escrito sobre posições atribuídas ao Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, e críticas à orientação de certos programas da televisão pública, igualmente "criticadas por vários outros camaradas da chamada `família MPLA`".
Esses críticos "por certo não têm, nem esperam por cargos tão suculentos, enquanto persiste este clima de intimidação cada vez (mais ou menos?) sofisticado", refere o também ex-secretário-geral do MPLA, que estava no cargo há três anos, por nomeação do Presidente, João Lourenço, tendo existido "alguma insistência" para então o aceitar.
"Justo há uma semana, estava eu a sentar-me para tomar a primeira colherada de sopa" quando "vejo o inacreditável no telejornal da TPA; mais ou menos assim: Presidente da República remodela CA da Sonangol; decretos: exonera tal...tal... e tal executivos e Marcolino José Carlos Moco, não executivos e Bernarda Gonçalves Martins, não executiva", escreveu na sua página.
De acordo com Marcolino Moco, de certa forma tinha sido avisado, por duas vezes, indiretamente, sobre as suas posições. Numa delas, foi questionado de forma "já um pouco sinistra" sobre as razões de permanecer um crítico, "apesar de toda a dinheirama e mordomias".
"Curioso recordar que uns dias antes tinham sido atribuídos, especificamente aos administradores não executivos da Sonangol, salários muito bem longe da realidade, por fofocas dentro e fora das `redes`", escreveu.
Marcolino Moco garantiu que "nunca mais" aceitará, como o fez "durante os últimos muitos anos do Presidente [José Eduardo] dos Santos", cargos que "afinal" apenas servem para as pessoas ficarem caladas, "quando não, para tecer loas `à chefia`".
Segundo Marcolino Moco, as nomeações são feitas para que, "mesmo perante irregularidades tão evidentes, que frenam a consolidação da pretendida estabilização política, económica, social e cultural do país", as pessoas fiquem caladas.
"Males que vêm por bem, assim, só pessoas de má vontade poderão afirmar que não quis colaborar com o novo Presidente [João Lourenço], quando as minhas ideias eram bem conhecidas", frisou.
Contudo, o antigo primeiro-ministro manifestou abertura "sem qualquer tipo de mágoa" para com o chefe de Estado angolano, que "conhece (não tão parecido com o atual Presidente da República) e para todos os outros atores políticos e sociais, dentro de uma verdadeira agenda de aprofundamento da reconciliação nacional, a todos os níveis".
Depois de algum tempo sem marcar posições sobre a situação política, económica e social do país, Marcolino Moco numa das suas redes sociais criticou o "bullyng racista e xenófobo" ao líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, entre outras questões.
Marcolino José Carlos Moco, advogado, foi primeiro-ministro de Angola de 1992 1996 e secretário-Executivo da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – de 1996 a 2000.
Descendente de uma importante linhagem de chefes tradicionais Ovimbundu, conhecidos em Angola pela designação de sobas, um dos quais foi Tchítue, fundador da aldeia onde nasceu, na província do Huambo, a 19 de Julho de 1953.
Fontes: Lusa, Angop e Woop.pt