O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, está "muito preocupado" com a recente violência verificada na capital senegalesa que se seguiu à detenção do opositor Ousmane Sonko, anunciou na sexta-feira, o seu porta-voz.
"[O secretário-geral da ONU] apela a todas as partes no Senegal para que evitem uma escalada da situação", acrescentou o porta-voz, Stéphane Dujarric, na conferência de imprensa diária após ter sido questionado sobre a violência hoje registada na capital senegalesa, Dakar.
"As manifestações devem permanecer pacíficas e as forças de segurança e policiais devem agir sempre em conformidade com os direitos humanos internacionais", em particular "permitir que os manifestantes expressem a sua opinião e vontade", disse o porta-voz, citado pela agência France Presse.
A capital senegalesa, Dakar, foi palco de conflitos entre as forças de segurança e centenas de jovens, dois dias depois da detenção do principal opositor do Governo, Ousmane Sonko, cuja custódia foi prolongada durante a tarde.
No distrito de Médina, no coração de Dakar, grupos de jovens atiravam pedras contra brigadas antimotim das forças policiais enquanto o som de granadas sonoras ecoava pelas ruas, segundo a agência noticiosa francesa.
A detenção de Sonko, terceiro nas eleições presidenciais de 2019 e visto como um dos principais concorrentes das eleições presidenciais de 2024, desencadeou também o saque e pilhagem de lojas. De acordo com o presidente da empresa de retalho francesa Auchan, Edgard Bonte, 14 supermercados da empresa foram "atacados" na quinta-feira em Dakar.
Além de ter provocado a ira dos seus apoiantes, os senegaleses assinalam que a detenção de Sonko foi o clímax da revolta no país, cuja população enfrenta dificuldades há mais de um ano, agravadas pela pandemia de covid-19.
Na avenida Blaise Diagne, uma das principais artérias de Dakar, dezenas de jovens que pediam a libertação de Sonko conseguiram, ainda que temporariamente, afastar a polícia, apesar da forte presença de gás lacrimogéneo.
Já em Mbao, nos subúrbios da capital, a existência de pilhagens foi também observada por um jornalista da AFP.
No distrito de Plateau, que integra importantes edifícios, como a residência do Presidente do país, vários ministérios, e a sede do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), o trânsito era quase nulo.
As manifestações, que tiveram início há vários dias, provocaram a morte de pelo menos uma pessoa.
A custódia policial de Sonko, que começou na passada quarta-feira, foi prolongada e deverá terminar no domingo, segundo os seus advogados.
Sonko foi formalmente detido sob a acusação de perturbação da ordem pública, quando se dirigia ao tribunal onde foi intimado a responder a acusações de violação.
Sonko, 46 anos, é alvo de uma queixa por violação e ameaças de morte, apresentadas no início de Fevereiro por uma funcionária de um salão de beleza, onde o político recebia massagens para, segundo o próprio, aliviar dores de costas.
Personalidade com um perfil anti-sistema e discurso impetuoso, o deputado refuta as acusações e diz-se vítima de uma conspiração patrocinada pelo Presidente, Macky Sall, com o objetivo de o manter fora das próximas eleições presidenciais em 2024.
Sall negou estas insinuações no final de Fevereiro, mas desde então tem mantido silêncio sobre o caso.
Fonte: Angop