O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, encontrou-se na segunda-feira, em Bissau, com representantes de ex-combatentes deficientes das Forças Armadas Portuguesas, segundo a Presidência da República.
"No quadro da visita oficial à Guiné-Bissau, o Presidente da República encontrou-se com dois representantes da Associação dos ex-Combatentes Deficientes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau, com quem abordou alguns dos temas que mais os preocupam", lê-se numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, acompanhada por fotografias.
O encontro, que não constava do programa oficial desta visita à Guiné-Bissau, decorreu na segunda-feira à noite no Centro Cultural da Embaixada de Portugal em Bissau, adiantou à agência Lusa fonte da Presidência da República.
Na terça-feira à tarde, Amadu Djau, presidente da associação de deficientes de guerra formada por guineenses que serviram o exército português, anunciou em declarações à Lusa que iria apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa um caderno reivindicativo "que deve ser cumprido por Portugal".
O caderno reivindicativo inclui, entre outros pontos, a devolução da nacionalidade portuguesa aos ex-militares guineenses, o pagamento da sua pensão de reforma, de sangue e de invalidez e o acesso a tratamento medico para os ex-combatentes e seus familiares em Portugal.
Exigem ainda que Portugal providencie a recolha dos restos mortais de ex-comandos africanos - um força de elite do então exército colonial, formado essencialmente por guineenses - assassinados pelas novas autoridades da Guiné-Bissau a partir de 1974.
Amadu Djau acredita que serão cerca de 600 homens, cujos corpos se encontram atualmente em valas comuns em localidades como Cumeré, Portugole, Mansoa, Farim, Gudadje, no Norte da Guiné-Bissau.
"É preciso que Portugal dê dignidade a estes homens", defendeu o presidente da associação.
Ainda antes de Marcelo Rebelo de Sousa chegar à Guiné-Bissau para uma visita oficial que termina hoje ao fim do dia, Amadu Djau assegurou que os ex-combatentes iriam marcar presença nas ruas de Bissau desde a chegada até à partida de regresso a Lisboa do Presidente português.
"Vamos colocar cerca de dois mil ex-militares e seus familiares nas ruas para saudar o Presidente Marcelo, mas também vamos aproveitar o encontro com ele para lhe apresentar o nosso caderno reivindicativo", disse à agência Lusa.
A Guiné-Bissau foi a primeira colónia portuguesa em África a tornar-se independente. A independência foi proclamada unilateralmente em 24 de setembro de 1973, decorrida uma década de luta armada, reconhecida de imediato pelas Nações Unidas e por Portugal um ano mais tarde, a seguir ao 25 de Abril, em 10 de setembro de 1974.
Há menos de um mês, na sessão solene comemorativa do 47.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o passado colonial português e pediu que se olhe para a História sem temores nem complexos, procurando unir e combater intolerâncias, com a noção de que há diferentes vivências e perspetivas em relação a esse período.
No seu discurso, falou dos jovens portugueses que foram combater - realçando que entre eles estiveram os militares que fizeram o 25 de Abril -, mas também dos que se exilaram para não participar na guerra colonial, dos que viviam em África e voltaram e dos que ficaram, dos africanos que combateram contra as forças portuguesas, mas também dos que lutaram do lado de Portugal, das populações que sofreram com a colonização, das novas gerações emocionalmente distantes deste passado.
Ainda nesta terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa irá prestar homenagem aos combatentes portugueses que morreram na Guiné-Bissau e que estão sepultados no cemitério de Bissau.
Fonte: Lusa